
A última aula da Aposénior, saltou do tema de Cultura Portuguesa...e subiu da Terra ao Céu...
Eu explico.
No regresso da nossa viagem de estudo às margens do rio Sado e de que falarei em breve, a Luísa ficou em Lisboa uns dias, para dar um pouco de mimo - eu costumo dizer, dar de mamar - , aos filhos que estão a iniciar na capital, as suas vidas profissionais...
Como mulher livre e actual, aproveitou e foi ao teatro. Chegou empolgada com uma peça de Ionesco, cujo tema é sobre o modo de cada um encarar a sua própria morte: "O Rei está a morrer"...
Imediatamente o grupo regressou aos tempos de infância e , tal como na escola, toda a gente punha o dedo no ar na ânsia de dar a sua opinião sobre o tema e...como encara essa chegada, preparada ou não...
Os que partem demasiado cedo - na nossa opinião (mas quem somos nós para ajuizar se é cedo ou tarde?).
Os que partem tarde - depois de terem realizado todos os sonhos - e aceitam a sua chegada com naturalidade...
Também os receios, o mistério, o desconhecido...a falta de Fé ou de Algo em que acreditar...outras religiões, outras crenças, regressões e vidas passadas, reencarnações...
Enfim...cada um à sua maneira...( O Ser Humano é FASCINANTE...)
Bem, a dada altura chegou a minha vez...
E disse:
Claro que também já receei a morte e achei que, enquanto não deixasse os meus filhos, crescidos e adultos e, sem necessitarem do meu apoio,
era muito cedo para fazer essa viagem...mas a partir dos meus 50, quando eles já estavam a caminhar pelas suas próprias pernas e eu me tinha REALIZADO, deixei de ter esse medo...
Já vivi todas as etapas da minha caminhada, as essenciais...fui menina, mulher e mãe...até já sou avó...perdi-me e encontrei-me...sei o que é a liberdade...faço da minha vida um acto contínuo de Amor...
Agora, vou tentando manter a velocidade de cruzeiro e...esperar com serenidade a chegada desse dia...
Até já disse às minhas Amigas: Quando eu morrer, quero que ponham no meu túmulo, uma lápide que diga: Aqui jaz uma mulher que foi Feliz!
Acabo de dizer isto e a sala explodiu com risos, palmas, abraços e beijos!!
Os colegas...pelo inesperado, desataram a bater palmas e a professora veio direita a mim, rodeou-me os ombros e deu-me um beijo na testa...
Nisto, eu que fiquei surpresa e feliz com a reacção deles disse: Mas, não quero morrer já!!!
Risada geral...E aí, expliquei porquê...
Costumo ter sonhos que me deixam muitas vezes a pensar...
Vi-me num quarto branco a arrumar sapatos brancos...mas eram sapatos diferentes dos vulgares...eram de cetim, muito fofos, tinham rendas, laços, pérolas, flores... lindíssimos, etéreos...imaginei que fossem sapatos de anjos...
Estava encantada e extasiada...
Nisto, reparei que começei a elevar-me e fiquei no tecto a observar os sapatos.
Nesse momento, conscientemente, senti que estava a partir e, de repente pensei que ainda não queria ir...
Nem fazem ideia do esforço físico que fiz para descer daquela posição e voltar a pôr os pés no chão do quarto!...E acordei...
Os mistérios do nosso sub-consciente...